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Galeria Histórica de São João da Barra

Localizado no Norte do Estado do Rio de Janeiro, o município de São João da Barra tem cerca de 32 mil habitantes e guarda uma história bastante rica, marcada inicialmente pela pesca, pela criação de gado, pela cultura da cana de açúcar e pela atividade portuária. Em 1676, o povoado foi elevado à categoria de vila. Em 1850, recebeu do imperador Dom Pedro II, o título de cidade. Que tal conhecer um pouco mais sobre fatos curiosos da terra de Narcisa Amália?

Textos e fotos extraídos da Fan Page "Histórias De São João Da Barra", do historiador Fernando Lobato.

O início...

Em 1622, pescadores de Cabo Frio chegaramao deltado rio Paraíba – região que pertencia à Capitania da Paraíba do Sul, abandonada por Gil de Góis, herdeiro de Pero de Góis, que não conseguiu mantê-la.Satisfeitos com o local, se estabeleceram na barra com suas redes e formaram um núcleo pesqueiro. Dentre eles, estava Lourenço do Espírito Santo, que abandonou o local após ver a esposa morrer afogada. Ele resolveu seguir para o interior, três quilômetros acima e ergueu sua choupana e uma pequena capela em louvor aSão João Batista.Outros logo o seguiram e, em pouco tempo, estava formado o povoado de São João da Praia. Em 1644, o prelado do Rio de Janeiro, D.Antônio de Maris Loureiro, criou a freguesia de São João Batista da Barra da Paraíba do Sul... Obs) Imagem atual do delta do Paraíba.

Vila e Cidade

Em 1674, Dom Pedro II, de Portugal, através de carta régia, doou ao visconde de Asseca a rica capitania da Paraíba do Sul para a criação de vilas. Em março de 1676, o procurador do donatário,capitão mor Agostinho de Azevedo, o juiz ordinário de Cabo Frio, Geraldo Figueira, e outras autoridades passaram a criar as vilas. Em 06/06/1676,foi criada a Vila de São João da Paraíba do Sul (em torno da igreja e de 30 casas). Para oficiais da Câmara recém-fundada, foram indicados os nomes do sargento mor, João Velho Pinto e Francisco Pereira Zevora, para juízes ordinários;José Vaz Saraiva, Gabriel Nunes Varejão, Luiz Pereira Bandeira, para vereadores e Félix Alves de Barcelos para procurador. Assim ficou instituída politica e administrativamente a vila – que no dia 17/06/1850 ganhou do imperador Dom Pedro II, o título de cidade, passando a se chamar São João da Barra. Obs) Imagem meramente ilustrativa.

O porto fluvial

No século XVIII, a planície goitacá se transformou num extenso canavial e a produção passou a ser escoada pelo Rio Paraíba do Sul. São João da Barra principiou sua vida portuária, passando a contar com vários estaleiros e virando entreposto comercial dos municípios de Campos, São Fidélis e Cantagalo. Em 1881, um grupo de sanjoanenses e campistas formou a Companhia de Navegação São João da Barra e Campos, fundada pelo decreto nº 7984 com capital de 1.346:800$000. Eles construíram na Praça da Matriz, junto ao rio, um edifício que servia de sede; um estaleiro, trapiches e vários vapores e barcos empregados na navegação. O porto chegou ao fim no início do século XX devido ao assoreamento do rio.

Usina Barcelos

Foi inaugurada em 1878 com a presença do imperador D. Pedro II, da imperatriz Thereza Cristina e grande número de ilustres do Império. Instituída pelo decreto nº 5277/1876 para estabelecimento de engenhos centrais no Brasil, o Engenho Central "Barcelos" foi estabelecido à margem do Paraíba, entre os municípios de SJB e Campos, servindo às duas cidades pela estrada de ferro da Leopoldina Rayway. Foi fundada por João da Silva Cordeiro, Domingos Alves de Barcelos Cordeiro (Barão de Barcelos), Manoel Rodrigues Peixoto, Eduardo José Manhães, Manuel Antônio Oliveira Cruz, dentre outros. Em seus primeiros anos, produzia anualmente 120 mil arrobas de açúcar e 900 pipas de aguardente. Tinha 12 quilômetros de linha férrea para o centro da lavoura, atendendo, ainda, a usina Tahy.

As visitas da Família Real

São João da Barra recebeu a visita da família real algumas vezes. A primeira foi em 24/03/1847 quando D. Pedro II desembarcou na praça, festivamente preparada com um tapete de folhas e flores conduzindo à igreja matriz. Ele visitou a Casa de Câmara e Cadeia, analisou papéis e doou 1 conto de réis para a construção de uma casa de caridade. No dia seguinte, passeou pelo delta do Paraíba.Em 16/06/1868, a princesa Izabel e seu marido, o conde D'Eu, repetiram o roteiro feito pelo pai. D. Pedro II voltou a SJB em 15/06/1875, com a esposa e o genro conde D'Eu. Eles foram recepcionados pela viúva do vice-cônsul de Portugal,Dona Madalena Costa, que a pedido da Câmara, ofereceu um almoço. Em 23/11/1878, o imperador participou da inauguração da Usina Barcelos. Obs) Imagem meramente ilustrativa.

Narcisa Amália

A poetisa sanjoanense Narcisa Amália nasceu em 1852, filha de Joaquim Jácome Campos Filho e Narcisa Ignacia Campos. Onze anos depois, a família foi morar em Resende.Narcisa casou com o artista mambembe João Batista da Silveira e, depois, com o padeiro Francisco da Rocha. Em 1870, publicou sua primeira poesiano jornal sanjoanense O Paraybano. Seu primeiro livro de poesia, “Nebulosas” (1872), foi um sucesso. Segundo o historiador João Oscar, D. Pedro II fez questão de conhecê-la, visitando-a sem avisar (encontrou-a na padaria, com roupa comum e disse que estava ali para lhe provar do pão do espírito). Ela foi a primeira jornalista profissional do país. Lançou“Nelumbia”, “O Romance da Mulher que Amou”, “A Mulher do Século XIX”. Trabalhou em favor da mulher e das causas abolicionistas e republicanas. Faleceu em 1924.

O último coronel

O "coronelismo" vigorou no Brasil após a proclamação da República em 1889, substituindo os "barões". Detentores de riquezas e privilégios, seguiam carreira política. São João da Barra teve vários coronéis (da terra, da cana de açúcar, da navegação). Eles se faziam vereadores e, os mais proeminentes, presidiam a Câmara. Nascido por volta de 1890, o coronel Amando Alves foi o último representante desses políticos que tinham no "voto de cabresto" suas bases. Foi presidente da Câmara na disputada eleição de 1919, vencendo o major José França da Graça.Na eleição seguinte, São João da Barra elegeu o seu primeiro prefeito, Felicíssimo Francisco Alves.

Barão de São João da Barra

No período do Império, alguns nobres cidadãos recebiam títulos nobiliárquicos (duque, marquês, conde, visconde, barão e fidalgo). Em São João da Barra, três pessoas receberam o título de barão. O primeiro foi José Alves Rangel (Barão de SJB), que nasceu em 24/04/1779. Casou com a campista Maria Francisca Alves, teve cinco filhas e recebeu o título de barão em 1849, dois anos após recepcionar Pedro II – ocasião em que presidia a Câmara. Foi militar, político, proprietário rural e vereador por diversas legislaturas em Caeté. Morreu em 1855 na epidemia de cólera morbus.

Barão de Barcelos

Entre os três nobres cidadãos que receberam o título de barão em São João da Barra, no período do Império, está Domingos Alves de Barcelos Cordeiro (o Barão de Barcelos). Advogado e neto de José Alves Rangel (1º Barão de SJB), ocupou cargos na administração pública e na política do município, dedicou-se aos negócios da fazenda e a um pequeno engenho que adquiriu em Barcelos e que, mais tarde, virou uma usina. Foi deputado providencial, vereador e chefe do Executivo. Seu corpo foi sepultado em Degredo.

2º Barão e Visconde de SJB

Na era do Império, alguns cidadãos ganhavam títulos nobiliárquicos (duque, marquês, conde, visconde, barão e fidalgo) e, em São João da Barra, três homens ostentaram o título de barão. Um deles é Francisco José Alves de Siqueira Rangel, que nasceu em 1832, era fazendeiro efoi casado com sua prima Ignácia. Ele era neto de José Alves Rangel (1º Barão de SJB) e recebeu do Imperador D. Pedro II, os títulos de 2º Barão de SJB (em 24/03/1881) e Visconde de São João da Barra (em 18/01/1882). Foi o único no munícipio a conquistar status de visconde. Francisco era cavaleiro da Ordem da Rosa e comendador da Ordem de Cristo. Autoritário e preconceituoso, Chico Barão, como era conhecido, foi presidente do Partido Liberal e Comandante da Guarda Nacional na cidade. Faleceu em 1883.

Expedição Trayer

Em abril de 1865, um grupo de estrangeiros, tendo à frente o naturalista francês Louis Agassiz, sua mulher Elizabeth, naturalistas, cientistas e estudantes, empreendeu uma viagem ao Nordeste e à Amazônia para estudar a piscicultura brasileira. O sanjoanense Dr. João Martins da Silva Coutinho foi convidado para guiar o grupo, pois era profundo conhecedor daquela região, a maior autoridade no que dizia respeito aos rios amazônicos. Silva Coutinho também projetou diversas ferrovias, dentre elas, a "Madeira x Mamoré". Na foto, ele está ao lado de Willian James, Sr. Bouget, o milionário S.V.R. Trayer, Walter Hunnewell, Jaques Burkardt e Newton Dexter.

O futebol sanjoanense

As mais remotas informações mostram que, em princípios de 1800, a rua que passava atrás da "Boa Morte" chamava-se Rua do Jogo da Bola (um jogo que utilizava uma bola de pano). Com seu porto movimentado e sempre atenta aos modismos, a cidade importou o esporte bretão em princípios dos anos de 1920, com a formação do time Vila Isabel Futebool Club. Seu rival era o "Brasileirinho". Aos dois, seguiram-se: Boa-Vida F.C., Thoquino l F.C., Ipiranga F.C., e outros na década de 40.Em 1949, surge o Flamengo F.C. que desapareceu dois anos depois. Em 1943, surge o Fluminense F.C. Em 1953, o Sanjoanense FC, seguido da Portuguesa, América e o Santos, em Atafona.

Um avião na praça?

Entre os fatos inusitados de São João da Barra está o de um avião, lá pelo fim da Primeira Guerra Mundial. Um dos vapores que navegavam do Rio para SJB encontrou um aeroplano flutuando no oceano. Sobre ele, o piloto pedia socorro. Rebocado até a cidade, foi conduzido pelo Cais do Imperador até a praça (na época, um extenso campo gramado) e chamou atenção de todos. O sanjoanense Maneco Lima, que costumava consertar os motores dos vapores e navios, resolveu o problema. No dia seguinte, o aeroplano alçou voo e partiu sob os olhares estupefatos de todos, entre eles, o de Antenor Lobato, avô do pesquisador Fernando Lobato. Anos depois, numa campanha eleitoral, o candidato ao governo do Estado, Protógenes Guimarães, discursando na praça, lembrou o fato, declarando ser ele o piloto socorrido. Obs) Imagem meramente ilustrativa.

Solar do Coronel Teixeira

O prédio que hoje abriga o Palácio Cultural Carlos Martins foi construído nos idos de 1870, para residência do comerciante Manuel José Nunes Teixeira, mais conhecido como Coronel Teixeira, que também era deputado estadual. Após ficar viúvo de Adalgisa Oliveira Cruz, casou com Mariana Tinoco da Conceição. Construída com os melhores e mais nobres materiais, a casa abrigava sólida mobília. No salão nobre, um lindo piano harmonizava-se com tapetes, quadros e objetos de arte. Após a morte do casal (ela em 1919 e ele em 1905) e concluídas as disposições testamentarias, o inventariante Dr. Arnaldo Tavares mandou vender o prédio, adquirido pelo Estado e adaptado para servir ao Grupo Escolar Alberto Torres, inaugurado em 1922, funcionando ali por mais de 50 anos.

Grupo Escolar Alberto Torres

Durante longos anos, o Grupo Escolar Alberto Torres foi o polo cultural da cidade. Sob a direção de Francy Graça Fernandes (na foto com Nancy e ZaydeArahujo), a instituição de ensino realizou eventos inesquecíveis. Em 1967, o "Desfile de Miss Universo Mirim", reuniu as crianças mais badaladas da sociedade. O garoto de gravata borboleta é o pesquisador Fernando Lobato, que foi o mestre de cerimônias. Fátima Cordeiro, de coroa ao centro, passou a faixa para Katia Sá Azevedo, no canto à direita.

A dona do sobrado

Nascida em São João da Barra, Clarinda Dias de Jesus, filha de Manoel Antônio Dias e D. Thereza de San Joaquim, casou-se em 1828 com o inglês Guilherme Gowill. Em 1829 nasceu a filha do casal, Maria. No ano seguinte, Clarinda ficou viúva. Alguns tempo depois, ela casou com André Gonçalves da Graça, importante traficante de escravos, muito rico e que morava na vila. Nos anos de 1840, construíram num dos melhores lugares da vila, um imponente sobrado que, de tão suntuoso, foi escolhido pela Câmara Municipal, em 1847, para servir de pouso ao imperador Pedro II em visita protocolar. Além dele, bispos e demais visitantes importantes usaram o palacete como pousada. Graça faleceu em 1871, deixando inúmeros bens. Hoje, o sobrado é sede do fórum de SJB.

Chalé dos Cunha

O chalé da Rua João Francisco de Almeida, esquina com Coronel Teixeira, pertence à família Cunha. Foi construído por Francisco Gonçalves da Cunha, chamado de Chico Ilhéu; nascido na Ilha da Madeira, em 1862, filho de José Gonçalves da Silva. O imóvel é um exemplar da fase áurea da navegação, quando a cidade foi tomada por elegantes chalés de telhados recortados por lambrequins, bem ao gosto francês. A cidade perdia o bolorento ar colonial, de abafados sobrados e casas geminadas umas às outras, com portas fechadas por postigos, gelosias e sacadas escondidas por muxarabis.

Solar dos Graça

A pujante economia mercantil, no final do século XIX, construiu grandes fortunas. Os comerciantes da terra, sempre de raízes lusitanas, importavam e exportavam de tudo pelo Paraíba, gerando fabulosos impérios mercantis. Um dos maiores foi o português José França da Graça (filho de Perpétua de Jesus e João de França), aqui estabelecido no último quartel do século XIX. Casou na cidade com Dona Maria Caetana e constituiu um imenso patrimônio formado por sítio, terrenos; gados, ações, canoas, casas, sobrados e o chalé colonial (foto) localizado na Rua dos Passos, 81, esquina com General Polidoro, e que possuía sólida mobília bem aos moldes da época.

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